terça-feira, 13 de dezembro de 2016

'Creche zen' usa ioga, massagem e comida saudável para acolher crianças na periferia de São Paulo

O cenário é uma creche sem muitos recursos. Os protagonistas têm idade entre 1 a 4 anos.
O enredo esperado incluiria crianças agitadas, choro de bebê e professores meio tensos, certo? Na verdade, não. O ambiente no Centro de Educação Infantil (CEI) Ananda Marga, na Zona Norte de São Paulo, é bem diferente. Na sala do andar de baixo, duas professoras fazem massagem nos bebês, que vão, um a um, caindo no sono em seus colchonetes. Em outra, crianças cumprimentam a reportagem com a saudação indiana "Namaskar" e depois seguem cantando uma música sobre proteger a floresta, enquanto dançam usando posições de ioga que imitam animais. Essas são justamente algumas das atividades na rotina das crianças: prática de ioga por meio de histórias, alguns minutos de silêncio com olhos fechados e respirando com calma (como em uma meditação) e massagem.

Contato físico e afeto

Para a pediatra Ana Maria Costa da Silva Lopes, massagear crianças pequenas faz todo sentido quando se fala em desenvolvimento de bebês. "Hoje sabemos que é fundamental resgatar o contato do bebê com a mãe ou o cuidador. E a massagem é interessante porque facilita esse contato e a troca afetiva. Estudos mostram que o corpo a corpo com o bebê é importantíssimo para o desenvolvimento do sistema nervoso central", explica Ana Maria, que integra o Departamento Científico de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). "Especialmente nos primeiros anos, esse desenvolvimento do sistema nervoso e da própria capacidade psíquica se dá por meio da interação com a voz humano, do aconchego e do corpo a corpo do bebê com o cuidador. Só que, atualmente, a correria a a introdução de telas fazem com que essas coisas venham se perdendo."

Respiração

Na creche, que é mantida por uma ONG em parceria com a prefeitura, as crianças maiores fazem massagens umas nas outras. Já na sala dos menores, de 1 a 2 anos, antes da hora da soneca as professoras fazem uma técnica milenar de massagem chamada shantala. Ela acalma o bebê, além de trazer outros benefícios. Todos deitados em seus colchões, eles vão dormindo assim que a professora massageia com a ajuda de um óleo natural os braços, as pernas, a barriga e o rosto. Para a pediatra Ana Maria, há atualmente muitos "fatores externos que fazem com que as crianças fiquem muito agitadas - seja por excesso de estímulo, como no videogame ou na TV, ou por estarem em um contexto mais violento, de agressividade física ou psicológica."
"Diante desse cenário, você introduz algo como massagem e respiração, isso ajuda a criança a ficar em um estado de organização emocional melhor e, assim, dar conta de fazer as atividades."

Merenda saudável

Outra abordagem diferente da creche no Jardim Peri está na alimentação, que é natural e vegetariana. Como todas as mais de 100 crianças ficam em período integral (das 7h às 17h), há cinco refeições: café da manhã, almoço, janta e dois lanches. Em todas elas, a maioria dos alimentos é in natura - raramente entra algo ultraprocessado, como bolacha recheada e achocolatado.
A BBC Brasil acompanhou as crianças almoçando. Pratinho na mão, uma a uma ia se servindo de arroz com cenoura, feijão reforçado com abóbora, beterraba, tofu frito e couve refogada. "Aqui, brigo com o açúcar. Também não deixo muito sal. Refrigerante também é proibido. Nossa comida aqui é muito bem elaborada, porque 85% das nossas crianças só comem aqui na creche. Usamos manteiga, grão-de-bico, ricota... E fazemos nosso iogurte. É melhor que o grego!", ri a filipina Didi Jaya, coordenadora da creche.
"Você vê que com a alimentação saudável as crianças ficam com a pele bonita. E a gente ensina os pais a fazer. Mas comida vegetariana é cara, então temos que nos virar e até pedir doação para os feirantes", conta Didi, afirmando que esse é, inclusive, seu maior desafio: a falta de verba.
Ela conta que de início os pais se assustam com o cardápio vegetariano, mas, depois, acabam vendo vantagens, especialmente no fato de as crianças comerem grãos e hortaliças. A pediatra Ana Maria afirma que, segundo a SBP, não há orientação para uma dieta vegetariana - nesses casos, é importante discutir com um pediatra. "Recomendamos evitar ao máximo alimento ultraprocessados, como aqueles salgadinhos de pacote, que têm muito sódio. O ideal para crianças é tentar sempre consumir alimentos o mais próximo possível de seu estado natural", afirma. Ela também ressalta que, no caso das crianças pequenas, a recomendação é a de se manter o aleitamento materno até o segundo ano de vida.
"Mas sabemos que a realidade nem sempre permite isso, então, é importante tentar manter a amamentação ao menos de manhã, antes de a criança ir para a creche, e à noite."
Reportagem: Mariana Della Barba / Imagens: Matheus Brant
 
 
 
 
 

Os segredos de Cingapura, apontado como o país com a melhor educação do mundo

Cingapura dominou os resultados do Programa de Avaliação Internacional de Alunos (Pisa, na sigla em inglês)
Cerca de 540 mil estudantes de 15 anos em 70 países participaram do exame, realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
"As provas não só avaliam se o estudante pode reproduzir os conhecimentos adquiridos, mas se é capaz de ir além do que aprendeu e aplicá-los em situações pouco familiares e fora da escola", diz o comunicado do Pisa.
Isso requer a habilidade de "explicar fenômenos científicos, interpretar dados e realizar experimentos."
Com base nestes critérios de avaliação, Cingapura ficou em primeiro lugar nas três disciplinas avaliadas: Ciências, Matemática e Leitura.
O Brasil obteve posições baixas em todas elas, com um desempenho inferior à avaliação de 2012, e abaixo da maioria dos países da América Latina que também fizeram parte do teste: foi o 59º em Leitura, 63º em Ciências e 65º em Matemática. Já Cingapura ganhou posições nas três. Em 2012, havia sido o segundo em Leitura e Matemática e o terceiro em Ciências.Mas o que explica esse excelente desempenho dessa ilha-Estado do Sudeste asiático? Brandew Jeffreys, editora de Educação do site da BBC, foi até lá conferir. Confira seu relato:
"Se você pensa que Matemática é difícil, não vai conseguir aprender", diz Hai Yang, de 10 anos.
Junto a outros alunos da turma 4D da escola primária Woodgrove, ele está explicando as aulas da disciplina que eu estava acompanhando. A classe trabalhava em um problema. Os estudantes se revezavam, levantando-se para dizer como haviam resolvido a questão. E faziam isso em inglês, uma das diversas línguas faladas em Cingapura. No fim das contas, havia mais de uma solução correta. O mais impressionante era sua dedicação para entender exatamente como fazer isso.
"Se apenas copiarmos a resposta dada pelo professor, quando crescermos talvez a gente não saiba mais como resolvê-lo", diz outra aluna, Megna.

Fundamentos

Trata-se de uma abordagem conhecida como Domínio da Matemática, usado também em escolas da China e que vem sendo adotado em algumas instituições de ensino de outros países, como o Reino Unido.
Essa é apenas uma parte de uma história de sucesso que despertou o interesse do mundo.
Cingapura se beneficia de ter um sistema escolar enxuto, no qual professores são reunidos no Instituto Nacional de Educação para serem treinados.
Seu diretor, Tan Oon Seng, me disse que o instituto recruta professores com base no seu grau de conhecimento das disciplinas, e é esperado que eles garantam que cada criança compreenda os elementos básicos do ensino.
Em Cingapura, acreditamos em fundamentos. Para que uma criança seja bem educada, ela precisa aprender a linguagem e gramática de várias matérias, uma linguagem com a qual sejam capazes de ler, uma linguagem com a qual possam entender os números."
Cingapura também tem ensinado bastante sobre como tornar a profissão de professor uma atividade recompensadora. É algo que confere status, porque a competição para tornar-se um mestre é grande.
Professores podem seguir uma carreira que os leva a se tornarem diretores, pesquisadores em Pedagogia ou um grande especialista em salas de aula. Eles têm tempo para aprofundar seus conhecimentos e preparar as lições.

Criatividade

Mas Cingapura não está acomodada em sua posição de prestígio. Em duas escolas de ensino médio, testemunhei tentativas de tornar o aprendizado mais criativo. No colégio Montfort, adolescentes são encorajados a fazer protótipos de produtos que vão desde um sistema para regar jardins a um teclado eletrônico. Usar habilidades científicas e matemáticas para resolver problemas do mundo real é exatamente o tipo de capacidade que o Pisa foi criado para avaliar. No Montfort, uma sala vazia está sendo transformada em um "laboratório de inventores". Ferramentas simples e diversos materiais estão disponíveis para que alunos os usem no tempo livre e criem coisas que podem levar para casa. Se quiserem entender como iluminar seu violão com lâmpadas de LED, é ali que aprenderão isso.
"Queremos que o aprendizado esteja ligado à realidade do dia a dia, para que isso melhore a experiência não apenas em Ciências, mas em outras áreas", diz o professor Ricky Tan Pee Loon.
Outro aspecto que chama atenção na educação em Cingapura é que diretores mudam de escola a cada seis ou oito anos. Também há uma grande ênfase na colaboração.
Khoo Tse Horng, diretor da escola St. Hilda, diz que o modo de trabalho dos professores também é diferente. Quando ele começou a dar aulas, o mais comum era ser acompanhado por um mentor mais experiente.
"Hoje, os professores trabalham em equipe, crescem juntos, pesquisam juntos, trabalham juntos."

Concorrência

Mas a principal colaboração para o sucesso de Cingapura talvez venha dos pais dos estudantes. O sistema é competitivo, e um exame ao fim do primário influencia se a criança conseguirá uma vaga na escola que pretende frequentar na próxima etapa. No ensino médio, os estudantes têm um currículo acadêmico "expresso" e outro normal, que os leva a obter um diploma técnico ou vocacional. Então, às 20h de uma certa noite, acompanho crianças de até 4 anos estudando matemática usando ábacos (instrumentos antigos de cálculo). Lucas, de 6 anos, parece tranquilo ao correr contra tempo para resolver uma série de problemas. Seus pais, Eric e Nicole Chan, me dizem que trazem os filhos para uma hora de aula adicional para que eles ganhem uma confiança extra.
Há um lado negativo, retratado em um filme recente feito por voluntários da agência publicitária Splash, de Cingapura, em que uma menina fica deprimida e estressada na preparação para seu exame ao fim do primário. Jerome Lau, um dos diretores da Splash, diz que se inspirou na experiência de um amigo. "É injusto começar a julgá-los e rotulá-los. Toda criança tem o potencial de se dar bem na vida."
O sistema de Cingapura está mudando, em parte por conta do reconhecimento que a concorrência é alta. Então, alterações estão sendo implementadas na forma como a notas são publicadas e usadas para classificar os alunos. É um sistema que reconhece algumas de suas falhas, mas segue comprometido em permanecer entre os melhores do mundo.

Pode a Terra ou algum outro planeta sobreviver à morte do Sol?

Com 4,6 bilhões de anos, o Sol é hoje uma estrela de meia-idade, e sabemos que não deve durar para sempre. Um dia, em coisa de 5 bilhões de anos, ele esgotará o combustível nuclear que o mantém brilhando e inchará como uma gigante vermelha, mais de cem vezes maior do que é hoje. Esse será um dia ruim para os planetas mais internos do sistema. Mercúrio, Vênus e possivelmente a Terra serão engolfados pela tênue, mas fervente, atmosfera solar.

segunda-feira, 25 de abril de 2016