domingo, 18 de fevereiro de 2018

Ex-funcionários do Facebook e do Google criam campanha para proteger crianças do vício em redes sociais

Menino usa smartphoneDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEx-funcionários do Google e do Facebook dizem que empresas de tecnologia atuam para atingir e manipular crianças
No atual debate sobre os impactos negativos que as redes sociais e os smartphones podem ter na saúde dos usuários e na sociedade, o mais recente alerta vem dos profissionais que ajudaram a criar esses produtos e ferramentas.
Um grupo de ex-funcionários do Google, do Facebook e de outras grandes companhias do Vale do Silício acaba de lançar nos Estados Unidos uma campanha para informar o público sobre os riscos da tecnologia digital, especialmente para crianças, e pressionar as empresas do setor a serem mais transparentes.
O grupo, denominado Center for Humane Technology (Centro para uma Tecnologia Humana, ou CHT na sigla em inglês), uniu esforços com a Common Sense Media, organização sem fins lucrativos que promove tecnologia segura para crianças, em uma estratégia que inclui ações em 55 mil escolas públicas em todo o país, lobby no Congresso, novas pesquisas científicas sobre o tema e ações conjuntas com engenheiros e designers em busca de produtos mais saudáveis.
O objetivo, dizem os idealizadores, é proteger jovens usuários do que consideram "esforços deliberados" das empresas para atingir e manipular esse público.
"As empresas de tecnologia estão conduzindo um experimento em massa e em tempo real com nossas crianças", disse o CEO e fundador da Common Sense, James Steyer, no lançamento da campanha, batizada de The Truth About Tech ("A Verdade Sobre a Tecnologia").
"Seu modelo de negócios geralmente as estimula a fazer o possível para capturar a atenção e dados, deixando para se preocupar com as consequências depois, mesmo que essas consequências possam às vezes prejudicar o desenvolvimento social, emocional e cognitivo das crianças", afirma Steyer, ressaltando a necessidade de responsabilizar essas companhias por suas ações.
Família usando gadgetsDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Empresas de tecnologia estão conduzindo um experimento em massa e em tempo real com nossas crianças', diz CEO da Common Sense

Riscos

Segundo especialistas da Common Sense e do CHT, entre os riscos associados ao vício em tecnologia digital estão distúrbios de atenção, perda de produtividade, dificuldade de pensamento crítico, depressão, estresse, ansiedade e pensamentos suicidas.
Dados da Common Sense indicam que 98% das crianças americanas com menos de oito anos de idade têm acesso a um dispositivo móvel em casa, por meio do qual podem estar expostas a mensagens de ódio, notícias falsas e aplicativos projetados para mantê-las conectadas pelo maior tempo possível.
Em pesquisa nacional realizada em 2016, metade dos adolescentes entrevistados disseram ser viciados nesses dispositivos.
"Nos últimos dois ou três anos, percebemos que as plataformas sociais estão invadindo as vidas de nossas famílias e de nossas crianças", disse à BBC Brasil a porta-voz da Common Sense, Maria Alvarez.
"Nós entendemos que a tecnologia veio para ficar e vai ter um papel cada vez maior na vida das pessoas. Queremos garantir que os jovens cresçam tirando proveito dessas ferramentas poderosas, mas de maneira segura", ressalta.
Em resposta à campanha, o Facebook declarou que é "uma parte valiosa da vida de muitas pessoas".
"Nós levamos nossa responsabilidade a sério e já tomamos medidas, incluindo mudanças recentes no News Feed e controles parentais incluídos no Messenger Kids, que é livre de anúncios", disse Antigone Davis, diretora de segurança global do Facebook. "Estamos comprometidos em fazer parte desse diálogo."
Procurado pela BBC Brasil, o Google não se posicionou até a conclusão desta reportagem.

Preocupações

O CHT foi fundado por Tristan Harris, que era responsável por questões éticas no Google, e inclui nomes como Justin Rosenstein, o criador do botão de "curtir" no Facebook, Lynn Fox, ex-executiva de comunicações da Apple e do Google, e Sandy Parakilas, ex-gerente de operações do Facebook.
Em seu manifesto, o CHT diz que esse grupo de profissionais entende "intimamente a cultura, incentivos de negócios, técnicas de design e estruturas organizacionais que guiam como a tecnologia sequestra nossas mentes".
A campanha é lançada em meio à discussão sobre o impacto que notícias falsas disseminadas pelas redes sociais tiveram nas eleições americanas em 2016 e em um momento em que vários nomes da indústria de tecnologia vêm manifestando preocupação sobre os efeitos negativos de seus produtos.
No ano passado, um ex-executivo do Facebook, Chamath Palihapitiya, chamou a atenção ao declarar que a rede social estava destruindo os fundamentos da sociedade. O CEO da Apple, Tim Cook, confessou recentemente que não gostaria que seu sobrinho usasse redes sociais.
Em janeiro, mais de cem pediatras e educadores enviaram carta aberta ao Facebook pedindo o fim do Messenger Kids, serviço de mensagens específico para crianças.
Menino olhando o celularDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionEx-funcionários do Google e do Facebook querem leis que restrinjam o poder e exijam mais transparência das empresas de tecnologia

Estratégias

Diante desse cenário, a campanha pretende engajar especialistas, investidores e executivos da indústria em busca de reformas que reduzam o potencial nocivo de seus produtos. O CHT está desenvolvendo um guia com "padrões de design ético" para orientar engenheiros e designers.
Os organizadores pretendem fazer lobby por leis que restrinjam o poder e exijam mais transparência por parte das grandes empresas de tecnologia e que criem melhores proteções para os consumidores.
Outra iniciativa será uma ampla pesquisa sobre a magnitude do vício em tecnologia digital entre jovens, que pretende avaliar as consequências físicas e mentais e os impactos de curto e longo prazo.
Nas escolas, as ações incluem material para ajudar professores a discutir com seus alunos o vício em tecnologia digital e as estratégias usadas pelas empresas para prender a atenção dos usuários.
"Queremos educar os jovens sobre como as empresas de tecnologia atuam, para que eles entendam por que se sentem tão viciados em seus telefones", observa Alvarez.
"Sabemos que não vai ser fácil, mas é encorajador ver que há um número crescente de pessoas-chave na indústria falando sobre isso."
http://www.bbc.com/portuguese/geral-43002971

Busca matemática acaba em uma igreja

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Ciência+Tecnologia
A descoberta de um número primo, foi feita no local mais improvável: o computador de uma igreja em um bairro de Memphis, Tennessee.
"O número 3, por exemplo, é primo, porque você só pode dividir 3 por 1 ou por 3", explicou Pace. "O número 5, o 7 e o 11 também são primos. Mas o 9 não, porque você pode dividir 9 por 1, por 3 e por 9." A divisão exata é aquela em que o resultado é um número inteiro.
maior número primo já registrado foi descoberto no fim de dezembro por Jonathan Pace, um engenheiro eletricista de 51 anos que mora no estado do Tennessee, nos Estados Unidos, e trabalha para a empresa de entregas FedEx. Pelo feito, Pace tem direito a um prêmio de quase R$ 10 mil, mas, em entrevista ao G1, ele já avisou que vai doar a quantia.
A descoberta faz parte do projeto Grande Busca na Internet pelo Primo Mersenne (ou Gimps, na sigla em inglês), que desde 1996 reúne milhares de voluntários em todo o mundo e já descobriu 16 números primos. Para participar, basta ter um computador e instalar um programa gratuito: assim, eles "emprestam" o tempo livre de seus computadores para a realização de cálculos automáticos enviados por um servidor central.

O objetivo é descobrir cada vez mais números primos, que são aqueles com os quais só é possível fazer uma divisão exata pelo número 1, ou pelo próprio número primo.Além do dinheiro (que, dependendo do número encontrado, pode chegar a mais de R$ 300 mil), os voluntários têm interesse no projeto para ajudar no avanço da matemática e também, quem sabe um dia, entrar para a história ao lado de grandes matemáticos do passado, como Euler e Euclides, que também estudaram os números primos.
Na vida prática, esse tipo de número também tem algumas utilidades: eles já foram usados, por exemplo, na elaboração de algoritmos de criptografia, segundo explicam os responsáveis pelo projeto Gimps.

14 anos como voluntário

Engenheiro do Tennessee, casado com uma professora de educação infantil e com dois filhos de 19 e 22 anos, Pace tem oficialmente um diploma de engenharia elétrica, mas diz que hoje a graduação feita por ele foi rebatizada de engenharia de computação. Ele é funcionário da FedEx desde 1990, mas sua paixão pela matemática vem desde o ensino médio, quando ele foi incentivado por um professor da área.Na data da descoberta, em 26 de dezembro, ele já era voluntário do projeto havia 14 anos e mantinha nada menos do que 18 computadores conectados ao servidor central do Gimps. "Lá em 2003 eu li uma reportagem na internet sobre a descoberta do 40º número primo Mersenne", contou ele.
"O texto mencionava que qualquer pessoa poderia participar, e que uma fundação daria um prêmio de 100 mil dólares para quem achasse o primeiro número primo com 10 milhões de dígitos."
"Pensei que eu tinha a mesma chance que qualquer outra pessoa", explicou Pace. Desde aquela época, o desafio da fundação levou cinco anos para ser completado. "Acho que em 2009 outra pessoa encontrou o número e levou o dinheiro. Mas naquela época eu já estava engajado, tinha quatro computadores no projeto."
Agora, ele se tornou o nome por trás da descoberta do 50º número. A cada novo número encontrado, fica mais raro que outro apareça, mas acredita-se que existe uma quantidade infinita de números primos.

M77232917

No release oficial divulgado pelo Gimps em 3 de janeiro, confirmando a descoberta, o número encontrado por Pace é chamado apenas pelo seu apelido (M77232917), ou por sua representação na forma reduzida (2 elevado à 77.232.917ª potência menos 1).
O motivo é simples: ele tem 23 milhões de dígitos, o que dificulta sua representação.
Você sabe quão grande é um número com 23.249.425? (Foto: Roberta Jaworski/G1)Você sabe quão grande é um número com 23.249.425? (Foto: Roberta Jaworski/G1)Você sabe quão grande é um número com 23.249.425? (Foto: Roberta Jaworski/G1)
Os primeiros 7.500 dígitos do maior número já registrado, que tem 23.249.425 dígitos (Foto: Reprodução)


Em um teste, o G1 tentou colar o número completo nesta reportagem, já sabendo que seria impossível. Dito e feito. A barra de texto congelou e, após 30 segundos, o navegador mandou avisar que havia travado. Então pensamos em divulgar apenas os 50 primeiros dígitos, já pedindo perdão por qualquer quebra de página estranha na sua visualização: 46733318335923109998833558556111552125132110281771.
A ideia seguinte foi fazer uma captura de tela com os dígitos em um tamanho legível. O resultado é uma imagem contendo os 7.500 primeiros dígitos. Essa tela você pode conferir abaixo, mas precisaríamos de outras 3.098,9 para dar conta do número completo.Embora no navegador a tarefa seja complexa, é sim possível vê-lo por extenso. O leitor ou leitora com interesse em fazer isso precisa baixar um arquivo zip. Não se preocupe, ele contém apenas um arquivo de texto com 23.249.425 dígitos. Eles ocuparão 22,6 megabytes do seu computador.

Número primo x número primo Mersenne

O número descoberto por Pace é considerado "raro" e se encaixa na categoria de "números primos Mersenne". A diferença entre um "Mersenne" e outros primos é que eles se encaixam em uma forma específica: 2 elevado à potência P menos 1.
Eles foram batizados em homenagem a Marin Mersenne que, segundo o projeto Gimps, foi um monge francês famoso por estudar esse tipo de número há mais de 350 anos.
O engenheiro explicou ao G1 que essa forma específica, introduzida pelo monge, sempre leva a um resultado binário. Isso quer dizer que incluir qualquer número no lugar de P leva o cálculo ou ao resultado 1, ou ao 0. Assim, é possível rodar softwares em computadores para que eles possam realizar um grande número de cálculos com números diferentes sem a supervisão humana. Esse é o trunfo do projeto Gimps, diz ele, para testar uma grande quantidade de números e descobrir quais são de fato primos, ou seja, quais representam as agulhas perdidas em um infinito palheiro.
"O programa faz o computador consumir mais eletricidade, porque ele está usando todos os ciclos da CPU, mas ele não desgasta seu computador mais rápido."
Sempre que um dos computadores faz o cálculo pedido pelo projeto e o resultado é 0, isso significa que o número é primo. Porém, o próprio computador não sabe disso e, para não perder nenhuma descoberta, Pace diz que o coordenador do projeto elaborou um comando que envia um alerta por e-mail sempre que o resultado do cálculo é igual a 0.
No caso do M77232917, a descoberta só foi confirmada e divulgada publicamente depois que o número foi testado por quatro pessoas em quatro computadores diferentes, rodando programas variados para eliminar a possibilidade de falha na máquina.

Computador de igreja fez descoberta

O computador que "tirou a sorte grande" e recebeu o número para fazer o cálculo pertence à Igreja de Cristo de Germantown, no Tennessee.
Além de frequentador da congregação, Pace explicou que é também voluntário na manutenção dos computadores e dos sistemas de informática do local. As máquinas da congregação eram algumas das 18 que o engenheiro mantinha conectadas ao projeto Gimps.
"Foi o computador usado pelo ministro de educação da congregação. O computador é 'agnóstico' [ou seja, 'sem conhecimento'], então ele só informou o resultado ao servidor, e pediu uma nova tarefa. Quem me avisou sobre a descoberta foi o coordenador [do projeto]." - Jonathan Pace
Por causa disso, ele diz que escolheu doar o prêmio em dinheiro à própria congregação, mas garante que vai seguir participando do projeto.
"Não acredito que eu mereça um prêmio por, entre aspas, 'descobrir' isso. Eu não fiz nada mais do que outros voluntários nesse projeto. Então prefiro que ele seja doado para uma boa causa", explicou Pace por telefone.
"Nossa tecnologia ainda é muito limitada, então esses números são cada vez mais difíceis de encontrar. Mas conforme os computadores forem ficando mais e mais rápidos, mais números primos serão descobertos."
 https://g1.globo.com/educacao/noticia/maior-numero-primo-do-mundo-e-descoberto-por-engenheiro-voluntario-nos-eua.ghtml

Alimentos feitos de insetos fazem sucesso na Suíça com apelo à sustentabilidade

Alimentos feitos de insetos fazem sucesso na Suíça com apelo à sustentabilidade
Comer insetos pode ser gostoso? Se depender do paladar suíço, a resposta é sim.
Produtos à base desses animais vêm se tornando um sucesso de vendas desde que foram lançados, em agosto passado.
Hambúrgueres e almôndegas produzidos com farinha de verme moído têm atraído tanta atenção dos consumidores que a procura desencadeou o desenvolvimento de novos petiscos com esse tipo de fonte proteica. Uma barrinha energética feita com grilos crocantes, passas e tâmaras é a nova moda, por exemplo.
A receita não chega a ser complicada. Insetos cultivados em criadouros higienizados na Suíça, Áustria e Bélgica são moídos e transformados em uma farinha. O pó, que é rico em proteína, é acrescentado em uma massa com outros ingredientes - como purê de grãos e temperos - e moldada no formato de uma carne de hambúrguer e almôndega.
A fabricante dos produtos à base de insetos argumenta que os alimentos são gostosos, saudáveis e sustentáveis. O supermercado que comercializa os itens está bem satisfeito com as vendas - a publicidade que os ingredientes inusitados geram que tem se mostrado muito boa para os negócios.
Defendendo o conceito de sustentabilidade no consumo, a marca mira nos jovens e capricha na aparência moderninha com uma divulgação gourmet, direcionada ao público hipster.
"O que queremos é abrir um novo mundo de possibilidades culinárias para nossos consumidores e convencê-los de que insetos são realmente deliciosos. Estamos cientes de que pode levar um tempo até as pessoas começarem a consumir insetos diariamente, mas estamos trabalhando por isso, todos os dias", afirmou Melchior Füglistaller, representante da empresa Essento, fabricante dos produtos.
"Estamos convencidos de que temos na Suíça consumidores que são amantes da boa comida, que têm uma mente aberta e provarão e gostarão dos produtos feitos com insetos. Não apenas por ser uma alternativa à carne, mas por razões culinárias mesmo", disse Andrea Bergman, representante da rede de supermercados Coop, à BBC Brasil.

Tabu e sustentabilidade

Populares na Ásia, os insetos são ainda geralmente um tabu na cozinha ocidental, apesar de serem ricos em proteínas e outros nutrientes.
A vantagem de incluí-los na dieta é o fato de serem relativamente baratos em comparação às carnes de gado, suína e de frango. Boa parte do marketing de promoção desses alimentos está focado justamente no argumento de que é "verde", e portanto bacana, consumir insetos.
"O consumo de carne demanda muitos recursos", afirma Melchior Füglistaller, representante da empresa Essento, fabricante dos produtos.
"Por exemplo, para se produzir um quilo de carne são necessários 15 mil litros de água e dez vezes mais ração do que seria necessário para alimentar insetos que produzissem a mesma quantidade de proteínas", argumenta.
Certamente o peso da carne no bolso influenciará a decisão dos suíços. Se um quilo de carne bovina moída e temperada para hambúrguer sai por 58 francos (R$ 190), no mesmo supermercado a apenas um corredor de distância é possível comprar o hambúrguer de inseto já embalado em porções de 170 gramas pelo preço de 52,60 francos (R$ 170) o quilo.
Ou seja, o consumo de "carne de inseto" se traduz em uma economia de cerca de 11% para o bolso do consumidor.

Peso no bolso

Os hambúrgueres alternativos são também uma resposta ao padrão de consumo alto e "insustentável" dos suíços.
A nação dos Alpes é uma das maiores consumidoras de carnes per capita no território da Europa. De acordo com um ranking organizado pela empresa de consultoria americana de alimentação Caterwings, a Suíça é o mercado onde a carne é a mais cara do mundo.
O preço médio do quilo de carne bovina está avaliado em US$ 49,68 (R$ 160).
De acordo com dados da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o padrão de consumo dos suíços é insustentável.
Em um relatório publicado em novembro, o secretário geral da organização, Angel Gurría, criticou os hábitos dos consumidores.
"A Suíça tem uma enorme pegada de carbono associada ao seu padrão insustentável de consumo. O consumo suíço está impondo significativa pressão (no meio ambiente) para muito além de suas fronteiras", escreveu.
O próprio país reconhece isso. Um relatório publicado pelo governo em junho passado apontou que os suíços precisam mudar seus hábitos alimentares em relação às carnes.
"Carnes: Nós consumimos 3 vezes mais que o necessário", afirma o documento assinado pelo líder Alain Berset.
Os suíços consomem na média 150 gramas de proteínas de diversas fontes a cada dia.
A consumidora Danielle Heer considera boa a ideia de promover a sustentabilidade, mas não deu uma nota alta ao sabor dos produtos à base de insetos. "Achei as barrinhas um pouco secas", avaliou.
Reportagem: Marina Wentzel, da Basileia (Suíça) para a BBC Brasil

A estudante Bárbara da Costa viajou para o Rio para fazer a matrícula com passagem comprada com as milhas de um professor

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É dela uma das 98 vagas disputadas em um dos vestibulares mais exigentes do país, em uma maratona de provas com ênfase nas matérias de exatas, feita por quase 6,3 mil alunos de todo o país.
"As provas discursivas de matemática e física são as mais difíceis do país, mais do que as do ITA", diz Francisco Antônio Martins de Paiva, o professor Max, que acompanhou a jovem e que há 20 anos dá aulas em turmas preparatórias para as provas do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e do IME. "A gente brinca que, se um professor conseguir acertar metade das questões, a escola pode contratar (para dar aula nas turmas regulares) de olho fechado", completa.
O perfil de Bárbara destoa da grande maioria dos aprovados no instituto - e nos cursos mais disputados das demais instituições de ensino superior do país -, egressos de escolas particulares e de classe média e alta.
Ela é a primeira pessoa da família a entrar na faculdade. A avó e a mãe, com quem morava em uma casa simples, trabalharam praticamente a vida inteira fazendo faxinas.

O professor Max foi buscar Bárbara no dia da mudança - para surpresa dele, restrita a uma mochila e um saco de supermercado. "A casa era um espaço entre dois imóveis, um vão de dois ou três metros, que a família cobriu e colocou uma porta improvisada. Sem estrutura nenhuma", ele lembra.

'Aos 21 anos, eu não sabia somar frações'

A realidade não era tão diferente da história do próprio professor. Max nasceu em Canindé, no interior do Ceará, e cresceu numa vila em que os moradores dividiam todos o mesmo banheiro. "Em casa não tinha uma mesa, eu estudava na rede", conta.
Em 1992 prestou o primeiro vestibular para História e, no início do curso, descobriu que era apaixonado por matemática. "Aos 21 anos, eu não sabia somar frações. Comecei a estudar sozinho, o que me abriu a possibilidade para que começasse a dar aulas particulares para ganhar algum dinheiro".
Fórmulas de matemáticaDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Em casa não tinha uma mesa, eu estudava na rede', diz o professor de matemática
Ele mudou de curso, virou professor em uma escola pública e, pouco tempo depois, foi convidado por uma escola particular - para dar aulas de ciências.
No esforço para adquirir conhecimento por conta própria, resolvia dezenas de provas. Foi assim que descobriu os testes do ITA, entre os mais difíceis do país. "A primeira vez que peguei uma prova, não sabia resolver uma questão. Pensei na hora: 'opa, é isso aqui mesmo que eu quero'".
O que começou como desafio virou vocação. Há 20 anos ele é titular das turmas especiais do pré-vestibular.
"Também tive gente que acreditou em mim".